Articulação de Mulheres do Amapá, realiza Treinamento de Midia

Articulação de Mulheres do Amapá, realiza Treinamento de Midia
As representantes que compõe o Comite Politico da AMA, participaram do treinamento que aconteceu na Escola Estadual Rivanda de Nazaré, no dia 11 de Agosto de 2007, um momento de grande importancia onde muito se refletiu sobre o papel da midia no enfrentamento a violencia contra mulher no Amapá. Relatos de casos de mulheres que sao vitimas de seus parceiros, orientaçoes de como argumentar com essa mulher que é vitima e precisa romper esse circulo e nao consegue por inumeras questões, muita alegria, compromisso e fortalecimento na missao da AMA, assim foi o clima do Treinamento!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Mulher negra, uma outra história


` Cinquenta anos nos separam da universal declaração de direitos ao que é humano.
Apenas um século nos separa do tempo e espaço em que, como escravas, não éramos donas de nossa fala, nosso corpo, nosso destino.


Ainda hoje tentam nos negar qualquer vida psicológica e intelectual, exibem nosso corpo colonizado pelas fantasias sexuais mais secretas - um corpo sem raízes na história e sem afetividade.

Se a violência contra a mulher é uma epidemia que desconhece classes sociais, existem segmentos que são mais vulneráveis porque já têm uma outra história de violência, como é o das mulheres negras, sob fogo cruzado de várias formas de violência:

-a de gênero, privada, no lar;

-a da pobreza, que as escraviza a jornadas de trabalho intermináveis das quais não sobrará sequer a mínima aposentadoria;

-e o preconceito racial que tenta nos confinar no espaço que vai do fogão ao tanque, domesticadas, no fundo de cena.

Alguns fatores nos tornam sujeito de direitos diferenciados, ou de não-direitos. Coisas de um passado muito próximo, ainda à flor da pele.

É pelas raízes numa história e numa cultura que não são as mesmas das mulheres brancas, que nós, mulheres negras, não nos identificamos tanto com os estereótipos de fragilidade, de submissão e dependência associadas à figura feminina.

Tempo passado, tempo presente, sempre tivemos que ir à luta, cuidando dos irmãos mais novos, trabalhando, ainda crianças. Na árdua luta pela sobrevivência, tornamo-nos fortes, aprendemos a decidir sozinhas e ocupar novos espaços.

Não é de estranhar que muitas estejamos nas lutas comunitárias, nos movimentos populares, como lideranças, conquistando espaços, nas universidades, como advogadas, médicas, professoras, sindicalistas, votando e sendo votadas, legítimas representantes políticas das lutas do nosso cotidiano.

É urgente aumentar o número de mulheres negras, no legislativo e executivo, que dão voz, hoje, a essa vasta população feminina que é negra. Quando as cotas de candidaturas femininas serão, finalmente, repartidas?

Falar de direitos humanos das mulheres negras, é mudar a imagem e auto-imagem, para as quais a mídia deve dar o tom e brilho certos. É falar da escola que deve acessar a força e os frutos de dignidade que herdamos de nossas mães negras, nobres guerreiras, incansáveis, mestres da arte de sobreviver e viver.


Já ficamos caladas tempo demais. Mulher negra tem história.


ALZIRA RUFINO
-Escritora, diretora da Casa de Cultura da Mulher Negra; Santos/SP
E-mail: ccmnegra@stcecilia.br
http://ccmnegra.santos.net/

Pesquisa organizada por:Rejanne Soares - Comunicação - AMA

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