` Cinquenta anos nos separam da universal declaração de direitos ao que é humano.
Apenas um século nos separa do tempo e espaço em que, como escravas, não éramos donas de nossa fala, nosso corpo, nosso destino.
Ainda hoje tentam nos negar qualquer vida psicológica e intelectual, exibem nosso corpo colonizado pelas fantasias sexuais mais secretas - um corpo sem raízes na história e sem afetividade.
Se a violência contra a mulher é uma epidemia que desconhece classes sociais, existem segmentos que são mais vulneráveis porque já têm uma outra história de violência, como é o das mulheres negras, sob fogo cruzado de várias formas de violência:
-a de gênero, privada, no lar;
-a da pobreza, que as escraviza a jornadas de trabalho intermináveis das quais não sobrará sequer a mínima aposentadoria;
-e o preconceito racial que tenta nos confinar no espaço que vai do fogão ao tanque, domesticadas, no fundo de cena.
Alguns fatores nos tornam sujeito de direitos diferenciados, ou de não-direitos. Coisas de um passado muito próximo, ainda à flor da pele.
É pelas raízes numa história e numa cultura que não são as mesmas das mulheres brancas, que nós, mulheres negras, não nos identificamos tanto com os estereótipos de fragilidade, de submissão e dependência associadas à figura feminina.
Tempo passado, tempo presente, sempre tivemos que ir à luta, cuidando dos irmãos mais novos, trabalhando, ainda crianças. Na árdua luta pela sobrevivência, tornamo-nos fortes, aprendemos a decidir sozinhas e ocupar novos espaços.
Não é de estranhar que muitas estejamos nas lutas comunitárias, nos movimentos populares, como lideranças, conquistando espaços, nas universidades, como advogadas, médicas, professoras, sindicalistas, votando e sendo votadas, legítimas representantes políticas das lutas do nosso cotidiano.
É urgente aumentar o número de mulheres negras, no legislativo e executivo, que dão voz, hoje, a essa vasta população feminina que é negra. Quando as cotas de candidaturas femininas serão, finalmente, repartidas?
Falar de direitos humanos das mulheres negras, é mudar a imagem e auto-imagem, para as quais a mídia deve dar o tom e brilho certos. É falar da escola que deve acessar a força e os frutos de dignidade que herdamos de nossas mães negras, nobres guerreiras, incansáveis, mestres da arte de sobreviver e viver.
Já ficamos caladas tempo demais. Mulher negra tem história.
ALZIRA RUFINO
-Escritora, diretora da Casa de Cultura da Mulher Negra; Santos/SP
E-mail: ccmnegra@stcecilia.br
http://ccmnegra.santos.net/
Pesquisa organizada por:Rejanne Soares - Comunicação - AMA
Apenas um século nos separa do tempo e espaço em que, como escravas, não éramos donas de nossa fala, nosso corpo, nosso destino.
Ainda hoje tentam nos negar qualquer vida psicológica e intelectual, exibem nosso corpo colonizado pelas fantasias sexuais mais secretas - um corpo sem raízes na história e sem afetividade.
Se a violência contra a mulher é uma epidemia que desconhece classes sociais, existem segmentos que são mais vulneráveis porque já têm uma outra história de violência, como é o das mulheres negras, sob fogo cruzado de várias formas de violência:
-a de gênero, privada, no lar;
-a da pobreza, que as escraviza a jornadas de trabalho intermináveis das quais não sobrará sequer a mínima aposentadoria;
-e o preconceito racial que tenta nos confinar no espaço que vai do fogão ao tanque, domesticadas, no fundo de cena.
Alguns fatores nos tornam sujeito de direitos diferenciados, ou de não-direitos. Coisas de um passado muito próximo, ainda à flor da pele.
É pelas raízes numa história e numa cultura que não são as mesmas das mulheres brancas, que nós, mulheres negras, não nos identificamos tanto com os estereótipos de fragilidade, de submissão e dependência associadas à figura feminina.
Tempo passado, tempo presente, sempre tivemos que ir à luta, cuidando dos irmãos mais novos, trabalhando, ainda crianças. Na árdua luta pela sobrevivência, tornamo-nos fortes, aprendemos a decidir sozinhas e ocupar novos espaços.
Não é de estranhar que muitas estejamos nas lutas comunitárias, nos movimentos populares, como lideranças, conquistando espaços, nas universidades, como advogadas, médicas, professoras, sindicalistas, votando e sendo votadas, legítimas representantes políticas das lutas do nosso cotidiano.
É urgente aumentar o número de mulheres negras, no legislativo e executivo, que dão voz, hoje, a essa vasta população feminina que é negra. Quando as cotas de candidaturas femininas serão, finalmente, repartidas?
Falar de direitos humanos das mulheres negras, é mudar a imagem e auto-imagem, para as quais a mídia deve dar o tom e brilho certos. É falar da escola que deve acessar a força e os frutos de dignidade que herdamos de nossas mães negras, nobres guerreiras, incansáveis, mestres da arte de sobreviver e viver.
Já ficamos caladas tempo demais. Mulher negra tem história.
ALZIRA RUFINO
-Escritora, diretora da Casa de Cultura da Mulher Negra; Santos/SP
E-mail: ccmnegra@stcecilia.br
http://ccmnegra.santos.net/
Pesquisa organizada por:Rejanne Soares - Comunicação - AMA
Nenhum comentário:
Postar um comentário